sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Só há notícia se for muito ruim
Carlos Brickmann

          Elio Gaspari costuma dizer que, nas redações, a notícia chega devagarzinho, abre a porta de leve, põe a cabeça para dentro e entra correndo para esconder-se. Se alguém a notar, será imediatamente chutada para fora.
          E, se a notícia for boa, suas chances de sobrevivência são ainda menores. Notícia que o pessoal gosta é corrupção, é escândalo, é miséria, é tudo aquilo que deu errado. Nas ocasiões em que o Brasil dá certo, aí não é notícia (e não vale nem a regra de que boa notícia é o inusitado). Lugar de notícia boa é a cesta do lixo.
          Jundiaí, no interior de São Paulo, atingiu 100% no fornecimento de água tratada e chegou muito perto disso no tratamento de esgotos (só não atingiu 100% por um problema judicial). Notícias? Só nos jornais da região, e olhe lá. A capital de São Paulo, onde o programa de água e esgotos caminha bem mas ainda está longe da universalização, ignorou o tema. O Brasil, onde água tratada e esgoto são coisas de gente rica, preferiu investigar se tem ministro comendo tapioca com cartão corporativo (tema que até vale investigação, mas não pode substituir outros assuntos de importância, que se referem à vida e à morte dos cidadãos).
          São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, é um exemplo ainda mais claro de que as boas notícias são desprezadas pelos meios de comunicação. De acordo com os números da respeitadíssima Fundação Seade, o índice de mortalidade infantil de São Caetano é o menor do país; equipara-se aos da Bélgica e do Japão, quatro mortes por mil nascimentos. É índice que ocorre no Primeiro Mundo.
          A derrubada dos índices de mortalidade infantil não ocorre, em lugar nenhum, apenas pela boa atenção à saúde: exige tempo, trabalho coordenado, que envolve planejamento, engenharia (tratamento de esgotos e água), meio ambiente (plantio de árvores, limpeza de rios e córregos), coleta de lixo, de preferência seletiva, assistência social (há em São Caetano um programa tipo bolsa-família, mais completo que o federal, mantido com recursos municipais), aleitamento materno, cuidados com as gestantes, educação em sentido amplo, higiene, empregos. E envolve, o que é raro, continuidade administrativa: não é porque um prefeito é adversário do antecessor que deve abandonar seus planos. O atual prefeito, José Auricchio, reeleito com 70% dos votos, tem na oposição boa parte do grupo político de seu antecessor. E daí? Neste processo todo, a cidade de 150 mil habitantes atingiu o maior índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. E, fora da região do Grande ABC, o fato foi olimpicamente ignorado pelos meios de comunicação.
          Dizem que Ribeirão Preto vai muito bem na área social (mas como encontrar dados, se não há reportagens?). E, o que aparece às vezes na TV (mas rarissimamente na imprensa escrita), a cidade se transformou em área de tecnologia de ponta no uso do raio laser em auxílio a transplantes. Há belas experiências de sustentabilidade ambiental no Rio Grande do Sul, há o hospital de referência no tratamento de câncer de Barretos, há as experiências em Campinas da Unicamp em energia alternativa e cirurgia para diabetes, há excelentes pesquisas em Campina Grande, na Paraíba, há um belo trabalho da Embrapa e da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz, há a agricultura irrigada de ótima qualidade no semiarido nordestino. E quem sabe, por ter sido informado pelos meios de comunicação, que as hélices dos geradores de vento da Europa são, em grande parte, fabricadas no Brasil?
           Vale matéria? De vez em quando, a TV mostra, em horários alternativos, em programas especializados, alguns aspectos dessas experiências positivas. De muita coisa este colunista tomou conhecimento ao integrar o júri do último Prêmio Esso de Jornalismo, com belíssimas matérias nos jornais da região sobre os bons fatos que também ocorrem.
           Vale matéria? Deveria valer. Mas, além da volúpia por más notícias, há um problema extra, que assusta pauteiros e repórteres: o medo da patrulha. Fazer matéria a favor pode dar a impressão de que há alguma coisa esquisita além da reportagem. Mas é preciso vencer também este preconceito - ou ficaremos restritos ao noticiário policial fingindo que é cobertura política.

           Observatório da Imprensa. Coluna Boas Novas, 18/8/2009. Disponível em<www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=5551CIR001>.
          Texto retirado do material da Olimpíada de Língua Portuguesa - caderno Pontos de Vista - 2010.
O que é essencial para todos?
Gustavo Barreto

          "O homem é essencialmente um ser de cultura", argumenta o professor Denys Cuche, da Universidade Paris V. A cultura é um campo do conhecimento humano que nos permite pensar a diferença, o outro e dar um fim às explicações naturalizantes dos comportamentos humanos. As questões étnica, nacional e de gênero, por exemplo, não podem em hipótese alguma ser observadas em seu "estado bruto". É o caso da relação homem-mulher, cujas implicações culturais são mais importantes do que as explicações biológicas.
          E por que se faz importante fazer esta breve introdução, na questão da ideia do Vale-Cultura, lançada pelo Governo Federal e atualmente em discussão com os atores sociais da área? Porque urge que nossa legislação passe por uma transformação, dado que a principal lei do setor está defasada (é de 1991) e é insuficiente para os desafios atualmente expostos.
          O conceito de "cultura" é tão reivindicado quanto controverso. Ouvimos esta palavra diariamente, para os mais diversos usos: cultura política, cultura religiosa, cultura empresarial. Também serve para complexificar e ampliar um debate sobre um tema difícil ("isso é cultural"), para finalizá-lo ("não tem jeito, isso é cultural") ou gerar preconceito contra um grupo social ("o povo não tem cultura"). São múltiplos os usos.
          Está claro que incentivar as manifestações culturais de um povo é condição indispensável para seu desenvolvimento. É certo que este instrumento deve atingir um de seus principais objetivos: a desconcentração regional e a democratização do acesso a produtos culturais. A simples injeção de R$ 600 milhões por mês no mercado cultural, podendo atingir até 12 milhões de brasileiros, já é um grande benefício.
          O curioso na iniciativa do Governo, que já tramitava no Congresso desde 2006, é a questão tardiamente (e fatalmente) gerada para reflexão: o que é essencial para todos? Se o trabalhador possui o Vale-Transporte e o Vale-Alimentação, por que não o Vale-Cultura? Este debate - e o debate é justamente este - gera reações ainda mais curiosas.
          A mais risível é a que ataca a proposta como "dirigista", afirmando que o tempo do dirigismo cultural já acabou em todo o mundo. Uma simplificação melancólica e uma inverdade: governos de países que alcançaram bons índices de desenvolvimento humano investem muito mais na cultura do que o Brasil. Os ataques têm nome: são os mesmos que falam em "alta cultura" e compõem as velhas oligarquias deste setor, pois concentraram por muito tempo a exclusividade dos "negócios" da cultura. Alguns chegam a duvidar da "qualidade estética" dos produtos culturais a serem consumidos.
          Estão claros os inimigos deste discurso conservador: o trabalhador, que passa a ser progressivamente um crítico de cultura, e as manifestações da cultura popular - ora atacada, por exemplo, por meio da restrição à cultura do funk carioca.
          A aprovação do Vale-Cultura será um passo importante, dentro de uma longa caminhada, para a inserção de milhões de brasileiros no universo privilegiado da cultura local, regional e nacional.

          Jornal do Brasil, 18/7/2009; site jornalístico Fazendo Média (www.fazendomedia.com/?p=268), 26/7/2009.
         Gustavo Barreto é produtor cultural no Rio de Janeiro e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura na UFRJ.

         (Texto retirado do material da Olimpíada de Língua Portuguesa - Caderno Pontos de Vista, 2010). 
Só mais um vale?

          Em artigo recente publicado no site Fazendo Média, Gustavo Barreto defende o Vale-Cultura. Entretanto esta medida não atingirá toda a população citada na proposta de Emenda  Constitucional, uma vez que municípios que não possuem um espaço cultural (teatro, cinema entre outros).
          É certo que a ideia é boa, levar cultura a toda população é essencial aos jovens e consequentemente à sua família, porém em forma de “vale” como seria administrado? E aquele que não tem “interesse” em enriquecer seus conhecimentos culturais não o usariam de outra forma, como uso no mercado, lanchonete e outros fins?
          Sabemos que a maioria da população com baixa renda tem necessidades maiores como, alimentação e saúde e é certo que dará preferência a essas necessidades para usar o dinheiro recebido com o Vale-Cultura.
          Esse benefício, como outros que já foram criados servirá apenas para complementar os rendimentos de uma parcela da população que não tem sequer o mínimo necessário para viver bem. O governo brasileiro deveria trabalhar no sentido de ajudar essas pessoas a melhorar a sua renda, uma vez que assim elas não precisarão desses vales.

                                                                                Ângela e Adriana 
Parágrafo produzido a partir da questão polêmica: A política de cotas é uma boa resposta às desigualdades sociais relacionadas às maiorias das étnicas?

         No Brasil, dados do Ipea revelam que há 22 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza, desse total, 70% são negros. Apesar desses números, o jurista AIves Gandra afirma que o sistema de cotas é inconstitucional, porque fere o princípio fundamental de igualdade entre os cidadãos, independentemente da classe social. Trata-se de discriminação contra o branco que pode perder o direito à vaga em uma Universidade, mesmo tendo melhor pontuação.

                                                                                Ângela e Adriana

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Solução justa?

Solução justa?

         A vida é o bem mais precioso do universo e, segundo a Constituição Federal de 1988,  “não haverá pena de morte, salvo em caso de guerra declarada”.
         Mas o que acontece na realidade? Analisando o número de injustiças cometidas todos os dias, podemos concluir que a pena de morte já existe. Basta observar o elevado índice de homicídios, execuções e desrespeito à vida.
         Defensores da pena de morte perguntam-se por que ter piedade de facínoras, criminosos, irrecuperáveis, matadores inveterados que torturam a sangue frio, sequestram e violentam  mulheres, crianças, jovens, pais de família, idosos ou pessoas que têm como objetivo apenas   ser um cidadão de bem e usufruir de seu direito de ir e vir?
         Por outro lado, a bíblia  diz “não matarás”, logo, ordenar a morte de um ser humano é um ato assassino, é negar-lhe o direito de viver, de regenerar-se. Deixar essa criatura viver é dar-lhe a chance de arrepender-se e pedir perdão e, se possível, reparar o erro cometido. A morte do delinqüente não traz alívio nem o conforto da dor de familiares e pessoas próximas à vítima do assassino ou do próprio criminoso. Pelo contrário, gera mais dor para todos os envolvidos na situação, além de perdurar o sentimento de dor por um ente querido morto, ou pelo trauma gerado no caso da vítima que sofreu e sobreviveu.
         O problema existe, realmente, e a sociedade não pode comprazer-se em olhar com indiferença, sem tomar uma posição altiva, austera e imediata, seria dar passaporte para a impunidade, o escárnio.
         O crime não pode ficar sem castigo e a sociedade desprotegida, pois quando a vida humana, bem mais precioso nada mais vale, é sinal de que o homem deve parar e fazer uma profunda reflexão, porque chegou ao fundo do abismo e há que se repensar o sentido de todas as coisas.

                                                                           Ângela e Adriana

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

      Avaliação dos dois primeiros encontros do curso Gêneros Textuais em Foco: Artigo de Opinião


      Ter a possibilidade de participar desse curso está abrindo novos caminhos para modificar e melhorar a nossa formação, dando-nos a oportunidade de preparar com maior segurança as atividades a serem desenvolvidas com os alunos.
      A interação dos participantes, a troca de experiências, a dedicação das orientadoras facilita o árduo trabalho.

                                                                             Ângela e Adriana
Comentário crítico sobre debate acontecido no curso Gênero Textual em Foco: Artigo de Opinião – Módulo II – dia 03/09/2011.


          Questão polêmica discutida: A sociedade tem o direito de tirar a vida de um criminoso?

          Os professores participantes do curso acima realizaram um debate de alto nível sobre o tema acima. Algumas regras foram estabelecidas para o êxito e bom andamento do mesmo.
          No início, o tempo não foi totalmente respeitado pela equipe do “sim”, mas a discussão continuou mesmo depois que um integrante trocou de equipe. Nem todos os que estavam presentes participaram de todos os momentos, por causa do grande envolvimento de alguns participantes.
           O debate foi muito proveitoso, revelando profundo conhecimento de ambas as partes. Mesmo quem nada falou, pode adquirir e ampliar conhecimento sobre o tema.
            Esta atividade revelou o alto nível do Curso “Gênero Textual em Foco”.
      
                                                                            Ângela e Adriana
Corrupção cultural ou organizada?
 Renato Janine Ribeiro

       Precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções "culturais" nos leve a ignorar a grande corrupção.

      Ficamos muito atentos, nos últimos anos, a um tipo de corrupção que é muito frequente em nossa sociedade: o pequeno ato, que muitos praticam, de pedir um favor, corromper um guarda ou, mesmo, violar a lei e o bem comum para obter uma vantagem pessoal. Foi e é importante prestar atenção a essa responsabilidade que temos, quase todos, pela corrupção política - por sinal, praticada por gente eleita por nós.
       Esclareço que, por corrupção, não entendo sua definição legal, mas ética. Corrupção é o que existe de mais antirrepublicano, isto é, mais contrário ao bem comum e à coisa pública. Por isso, pertence à mesma família que trafegar pelo acostamento, furar a fila, passar na frente dos outros. Às vezes é proibida por lei, outras, não.
       Mas, aqui, o que conta é seu lado ético, não legal. Deputados brasileiros e britânicos fizeram despesas legais, mas não éticas. É desse universo que trato. O problema é que a corrupção "cultural", pequena, disseminada - que mencionei acima - não é a única que existe. Aliás, sua existência nos poderes públicos tem sido devassada por inúmeras iniciativas da sociedade, do Ministério Público, da Controladoria Geral da União (órgão do Executivo) e do Tribunal de Contas da União (que serve ao Legislativo).
       Chamei-a de "corrupção cultural" pois expressa uma cultura forte em nosso país, que é a busca do privilégio pessoal somada a uma relação com o outro permeada pelo favor. É, sim, antirrepublicana. Dissolve ou impede a criação de laços importantes. Mas não faz sistema, não faz estrutura.
        Porque há outra corrupção que, essa, sim, organiza-se sob a forma de complô para pilhar os cofres públicos - e mal deixa rastros. A corrupção "cultural" é visível para qualquer um. Suas pegadas são evidentes. Bastou colocar as contas do governo na internet para saltarem aos olhos vários gastos indevidos, os quais a mídia apontou no ano passado.
        Mas nem a tapioca de R$ 8 de um ministro nem o apartamento de um reitor - gastos não republicanos - montam um complô. Não fazem parte de um sistema que vise a desviar vultosas somas dos cofres públicos. Quem desvia essas grandes somas não aparece, a não ser depois de investigações demoradas, que requerem talentos bem aprimorados - da polícia, de auditores de crimes financeiros ou mesmo de jornalistas muito especializados.
        O problema é que, ao darmos tanta atenção ao que é fácil de enxergar (a corrupção "cultural"), acabamos esquecendo a enorme dimensão da corrupção estrutural, estruturada ou, como eu a chamaria, organizada.
         Ora, podemos ter certeza de uma coisa: um grande corrupto não usa cartão corporativo nem gasta dinheiro da Câmara com a faxineira. Para que vai se expor com migalhas? Ele ataca somas enormes. E só pode ser pego com dificuldade.
         Se lembrarmos que Al Capone acabou na cadeia por ter fraudado o Imposto de Renda, crime bem menor do que as chacinas que promoveu, é de imaginar que um megacorrupto tome cuidado com suas contas, com os detalhes que possam levá-lo à cadeia - e trate de esconder bem os caminhos que levam a seus negócios.
         Penso que devemos combater os dois tipos de corrupção. A corrupção enquanto cultura nos desmoraliza como povo. Ela nos torna "blasé". Faz-nos perder o empenho em cultivar valores éticos. Porque a república é o regime por excelência da ética na política: aquele que educa as pessoas para que prefiram o bem geral à vantagem individual. Daí a importância dos exemplos, altamente pedagógicos.  
        Valorizar o laço social exige o fim da corrupção cultural, e isso só se consegue pela educação. Temos de fazer que as novas gerações sintam pela corrupção a mesma ojeriza que uma formação ética nos faz sentir pelo crime em geral.
         Mas falar só na corrupção cultural acaba nos indignando com o pequeno criminoso e poupando o macrocorrupto. Mesmo uma sociedade como a norte-americana, em que corromper o fiscal da prefeitura é bem mais raro, teve há pouco um governo cujo vice-presidente favoreceu, antieticamente, uma empresa de suas relações na ocupação do Iraque.
          A corrupção secreta e organizada não é privilégio de país pobre, "atrasado". Porém, se pensarmos que corrupção mata - porque desvia dinheiro de hospitais, de escolas, da segurança -, então a mais homicida é a corrupção estruturada. Precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções "culturais" nos leve a ignorar a grande corrupção. É mais difícil de descobrir. Mas é ela que mata mais gente.

Folha de S. Paulo, 28/6/2009.
Renato Janine Ribeiro, 59, é professor titular de ética e filosofia política do Departamento de Filosofia da USP. É autor, entre outras obras, de República (Publifolha. Coleção Folha Explica).
(Texto retirado do material da Olimpíada de Língua Portuguesa, caderno Pontos de Vista - 2010.)